terça-feira, 12 de julho de 2011

22 invernos

A noite de julho era gelada. Pelo que dizem foi por volta das sete horas da noite. Loirinha, tinha 50 centímetros, menos de dois quilos, toda frágil e pequeninha. O que sei é só o que me contam, não me perguntem qual foi a sensação que tive ao chegar por aqui. Mas bem que gostaria de lembrar. Sei que devo ter feito um bocado de diferença na vida de pelo menos duas pessoas nesse mundo. E isso já bastaria.
A retrospectiva inevitavelmente vem, os aniversários correm, os anos retrocedem na memória e passam em flashes todos os invernos anteriores... O resultado desse pensamento? Evolução.
Acho que é por isso que a vida deve valer a pena. Pra ver, ao longo dos aniversários e dos anos, quem se eterniza nesse ciclo. Quem fica, o quê fica, apesar de tudo. O que a gente leva, quem a gente leva, o que se descarta, o que se aprende, o que se carrega nas costas e o que se tatua na alma.
Já ouço meus pais e avós dizendo, “parecia ontem”. É, parecia ontem que eu não sabia o que era passar um aniversário longe de casa, parecia ontem meus 15 anos, parecia ontem a festinha na pré-escola. Inevitável nostalgia, carregada de sentimentos que só um passado muito bom te proporciona...
Conhecem a história do ano novo, né. Quando virou a noite, senti mesmo como se estivesse na virada do ano. Fogos de artifício no meu pensamento.
Um novo número, um novo ciclo, e que venha cheio de tudo o que me puder fazer crescer.
22 invernos. Confesso que prefiro ares de primavera... mas o inverno é a minha estação, julho é o meu mês e 12... é o meu dia.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

vamos viver a faixa?

Era domingo de Páscoa. Eu entrava na cidade pela avenida Dores, voltando de Santa Rosa com meu primo, por volta das oito horas da noite. Um engarrafamento estranho, e uma multidão logo a frente. O instinto curioso me fez sair do carro, que estava parado na avenida por causa do congestionamento, e ir até a movimentação. Lá, um susto. Uma menina, cabelos pretos, pequeninha, caída e desacordada no chão. Uma senhora gritava por socorro. Nenhuma ambulância no local. Logo, peguei o telefone e liguei para a Clarissa, para avisar. O cinegrafista não chegou a tempo de fazer imagens. Por sorte, as ambulâncias chegaram em cinco minutos e levaram a menina ao hospital.
O tio da pequena segurava nas mãos um pé do par das botinhas que ela usava. Ele me explicou que a menina atravessava a rua, quando um dos carros parou para ela passar, mas o carro da pista do lado não a viu. A pequena estava na faixa de segurança. Qual é o nome dela? Ouço um quase inaudível Luísa Helena.
Ver a menina me deixou com uma sensação de impunidade. Não pude fazer nada, mas vi a criança ali, no chão, e a família em desespero, sem ninguém saber o que fazer. Mais de dois meses depois, descubro que ela continua no hospital: 64 dias. Não corre risco de vida, mas pode sofrer sequelas. A parte neurológica foi muito afetada e ela pouco responde aos movimentos do corpo.
A Luísa Helena foi só mais uma a ser atropelada na faixa de segurança, dias depois de um outro atropelamento, também na faixa de segurança, que causou a morte do padre Bernardino Trevisan. Como disse a mãe dela, Gabriela, Luisa Helena não foi a primeira e nem será a última.
Mas a prudência, a educação e a responsabilidade devem estar aí para modificar essas estatísticas. Pelo menos é o objetivo.
Por isso o Grupo RBS começou hoje a espalhar pela cidade um Viva a faixa bem grande, pra ser respeitada e cumprida. É um apelo às autoridades, pedestres e motoristas, mas acima de tudo, um apelo à vida.
Porque só quem sofre conhece a fragilidade da vida.
Minutos antes de ser atropelada, Luisa Helena saía da missa com os avós para descobrir o significado da Páscoa. Depois disso, não sabemos se ela teve algum momento de consciência. Foram segundos, um pé na faixa de segurança, um olhar desatento de um motorista, e uma consequência triste.
Torcemos pela recuperação da pequena, e pra que todos os familiares voltem a ver o sorriso dela. E principalmente, que não aconteçam outras situações como essa, que sabemos, não é a única. 
E ainda, que a educação no trânsito, aconsciência, o cuidado e o respeito à vida perseverem. É essa a bandeira levantada.Vamos viver e deixar viver. Viva a faixa.